1º Ano de
Filo/3º Bim.
Principais períodos da história da
Filosofia
Como todas as outras criações e instituições humanas, a
Filosofia está na História e tem uma história.
Está na História: a Filosofia manifesta e exprime os
problemas e as questões que, em cada época de uma sociedade, os homens colocam
para si mesmos, diante do que é novo e ainda não foi compreendido. A Filosofia
procura enfrentar essa novidade, oferecendo caminhos, respostas e, sobretudo,
propondo novas perguntas, num diálogo permanente com a sociedade e a cultura de
seu tempo, do qual ela faz parte.
Tem uma história: as respostas, as soluções e as novas
perguntas que os filósofos de uma época oferecem tornam-se saberes adquiridos
que outros filósofos prosseguem ou, frequentemente, tornam-se novos problemas
que outros filósofos tentam resolver, seja aproveitando o passado filosófico,
seja criticando-o e refutando-o. Além disso, as transformações nos modos de
conhecer podem ampliar os campos de investigação da Filosofia, fazendo surgir
novas disciplinas filosóficas, como também podem diminuir esses campos, porque
alguns de seus conhecimentos podem desligar-se dela e formar disciplinas
separadas. Assim, por exemplo, a Filosofia teve seu campo de atividade
aumentado quando, no século XVIII, surge a filosofia da arte ou estética; no
século XIX, a filosofia da história; no século XX, a filosofia das ciências ou
epistemologia, e a filosofia da linguagem. Por outro lado, o campo da Filosofia
diminuiu quando as ciências particulares que dela faziam parte foram-se
desligando para constituir suas próprias esferas de investigação. É o que
acontece, por exemplo, no século XVIII, quando se desligam da Filosofia a
biologia, a física e a química; e, no século XX, as chamadas ciências humanas
(psicologia, antropologia, história).
Pelo fato de estar na História e ter uma história, a
Filosofia costuma ser apresentada em grandes períodos que acompanham, às vezes
de maneira mais próxima, às vezes de maneira mais distante, os períodos em que
os historiadores dividem a História da sociedade ocidental.
Os principais períodos da Filosofia
1] Filosofia Antiga (do século VI a.C. ao século VI d.C.)
Compreende os quatro grandes períodos da Filosofia
greco-romana, indo dos pré-socráticos aos grandes sistemas do período helenístico,
mencionados no capítulo anterior:
1.1. Período Pré-socrático/cosmológico;
*surge a Filosofia no séc. VI a.C.
*principal preocupação era entender a origem e as
transformações no Cósmo (universo).
*Tales de Mileto, primeiro filósofo.
1.2. Período Socrático/antropológico;
*principal preocupação da filosofia era entender o
comportamento ético, moral e social do antropo (homem).
*Sócrates é o principal filósofo.
1.3. Período Sistemático;
*principal preocupação era reunir (sistematizar) o conhecimento
produzido anteriormente e dividir por áreas.
*"tudo pode ser conhecido pela razão".
*Aristóteles é o principal filósofo.
1.4. Período Helenístico/greco-romano.
*Grécia torna se colônia do Império Romano.
*Filosofia preocupa se com ética, moral, política, religião.
*expansão da Filosofia para outras colônias do Império
Romano.
2] Filosofia Patrística (do século I ao século VII)
Inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São
João e termina no século VIII, quando teve início a Filosofia medieval. A
patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e
João) e pelos primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião - o
Cristianismo - com o pensamento filosófico dos gregos e romanos, pois somente
com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da nova verdade e
convertê-los a ela. A Filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa
religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques
teóricos e morais que recebia dos antigos. Divide-se em patrística grega
(ligada à Igreja de Bizâncio) e patrística latina (ligada à Igreja de Roma) e
seus nomes mais importantes foram: Justino, Tertuliano, Atenágoras, Orígenes,
Clemente, Eusébio, Santo Ambrósio, São Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo,
Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho, Beda e Boécio.
A patrística foi obrigada a introduzir ideias desconhecidas
para os filósofos greco-romanos: a ideia de criação do mundo, de pecado
original, de Deus como trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo
final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, etc. Precisou também
explicar como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi criado por Deus, que
é pura perfeição e bondade. Introduziu, sobretudo com Santo Agostinho e Boécio,
a ideia de “homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio,
pelo qual o homem se torna responsável pela existência do mal no mundo.
Para impor as ideias cristãs, os Padres da Igreja as
transformaram em verdades reveladas por Deus (através da Bíblia e dos santos)
que, por serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e
inquestionáveis. Com isso, surge uma distinção, desconhecida pelos antigos,
entre verdades reveladas ou da fé e verdades da razão ou humanas, isto é, entre
verdades sobrenaturais e verdades naturais, as primeiras introduzindo a noção
de conhecimento recebido por uma graça divina, superior ao simples conhecimento
racional. Dessa forma, o grande tema de toda a Filosofia Patrística é o da
possibilidade de conciliar razão e fé, e, a esse respeito, havia três posições
principais:
1. Os que julgavam fé e razão irreconciliáveis e a fé
superior à razão (diziam eles: “Creio porque absurdo”).
2. Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam
a razão à fé (diziam eles: “Creio para compreender”).
3. Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas afirmavam
que cada uma delas tem seu campo próprio de conhecimento e não devem
misturar-se (a razão se refere a tudo o que concerne à vida temporal dos homens
no mundo; a fé, a tudo o que se refere à salvação da alma e à vida eterna
futura).
3] Filosofia Medieval (do século VIII ao século XIV)
Abrange pensadores europeus, árabes e judeus. É o período em
que a Igreja Romana dominava a Europa, ungia e coroava reis, organizava
Cruzadas à Terra Santa e criava, à volta das catedrais, as primeiras
universidades ou escolas. E, a partir do século XII, por ter sido ensinada nas
escolas, a Filosofia Medieval também é conhecida com o nome de Escolástica.
A Filosofia Medieval teve como influências principais Platão
e Aristóteles, embora o Platão que os medievais conhecessem fosse o
neoplatônico (vindo da Filosofia de Plotino, do século VI d.C.), e o
Aristóteles que conhecessem fosse aquele conservado e traduzido pelos árabes,
particularmente Avicena e Averróis. Conservando e discutindo os mesmos
problemas que a patrística, a Filosofia medieval acrescentou outros -
particularmente um, conhecido com o nome de Problema dos Universais - e, além
de Platão e Aristóteles, sofreu uma grande influência das ideias de Santo
Agostinho. Durante esse período surge propriamente a Filosofia cristã, que é,
na verdade, a teologia. Um de seus temas mais constantes são as provas da
existência de Deus e da alma, isto é, demonstrações racionais da existência do
infinito criador e do espírito humano imortal.
A diferença e separação entre infinito (Deus) e finito
(homem, mundo), a diferença entre razão e fé (a primeira deve subordinar-se à
segunda), a diferença e separação entre corpo (matéria) e alma (espírito), O
Universo como uma hierarquia de seres, onde os superiores dominam e governam os
inferiores (Deus, arcanjos, anjos, alma, corpo, animais, vegetais, minerais), a
subordinação do poder temporal dos reis e barões ao poder espiritual de papas e
bispos: eis os grandes temas da Filosofia medieval.
Outra característica marcante da Escolástica foi o método por
ela inventado para expor as ideias filosóficas, conhecida como disputa:
apresentava-se uma tese e esta devia ser ou refutada ou defendida por
argumentos tirados da Bíblia, de Aristóteles, de Platão ou de outros Padres da
Igreja.
Assim, uma ideia era considerada uma tese verdadeira ou falsa
dependendo da força e da qualidade dos argumentos encontrados nos vários
autores. Por causa desse método de disputa - teses, refutações, defesas,
respostas, conclusões baseadas em escritos de outros autores -, costuma-se
dizer que, na Idade Média, o pensamento estava subordinado ao princípio da
autoridade, isto é, uma ideia é considerada verdadeira se for baseada nos
argumentos de uma autoridade reconhecida (Bíblia, Platão, Aristóteles, um papa,
um santo).
Os teólogos medievais mais importantes foram: Abelardo, Duns
Scoto, Escoto Erígena, Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Santo Alberto
Magno, Guilherme de Ockham, Roger Bacon, São Boaventura. Do lado árabe:
Avicena, Averróis, Alfarabi e Algazáli. Do lado judaico: Maimônides,
Nahmanides, Yeudah bem Levi.
4] Filosofia da Renascença (do século XIV ao século XVI)
É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na
Idade Média, de novas obras de Aristóteles, bem como pela recuperação das obras
dos grandes autores e artistas gregos e romanos.
São três as grandes linhas de pensamento que predominavam na
Renascença:
1. Aquela proveniente de Platão, do neoplatonismo e da
descoberta dos livros do Hermetismo; nela se destacava a ideia da Natureza como
um grande ser vivo; o homem faz parte da Natureza como um microcosmo (como
espelho do Universo inteiro) e pode agir sobre ela através da magia natural, da
alquimia e da astrologia, pois o mundo é constituído por vínculos e ligações
secretas (a simpatia) entre as coisas; o homem pode, também, conhecer esses
vínculos e criar outros, como um deus.
2. Aquela originária dos pensadores florentinos, que
valorizava a vida ativa, isto é, a política, e defendia os ideais republicanos
das cidades italianas contra o Império Romano-Germânico, isto é, contra o
poderio dos papas e dos imperadores. Na defesa do ideal republicano, os
escritores resgataram autores políticos da Antiguidade, historiadores e juristas,
e propuseram a “imitação dos antigos” ou o renascimento da liberdade política,
anterior ao surgimento do império eclesiástico.
3. Aquela que propunha o ideal do homem como artífice de seu
próprio destino, tanto através dos conhecimentos (astrologia, magia, alquimia),
quanto através da política (o ideal republicano), das técnicas (medicina,
arquitetura, engenharia, navegação) e das artes (pintura, escultura,
literatura, teatro).
A efervescência teórica e prática foi alimentada com as
grandes descobertas marítimas, que garantiam ao homem o conhecimento de novos
mares, novos céus, novas terras e novas gentes, permitindo-lhe ter uma visão
crítica de sua própria sociedade. Essa efervescência cultural e política levou
a críticas profundas à Igreja Romana, culminando na Reforma Protestante,
baseada na ideia de liberdade de crença e de pensamento. À Reforma a Igreja
respondeu com a Contra-Reforma e com o recrudescimento do poder da Inquisição.
Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Marcílio
Ficino, Giordano Bruno, Campannella, Maquiavel, Montaigne, Erasmo, Tomás Morus,
Jean Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa.
5] Filosofia Moderna (do século XVII a meados do século
XVIII)
Esse período, conhecido como o Grande Racionalismo Clássico,
é marcado por três grandes mudanças intelectuais:
1. Aquela conhecida como o “surgimento do sujeito do
conhecimento”, isto é, a Filosofia, em lugar de começar seu trabalho conhecendo
a Natureza e Deus, para depois referir-se ao homem, começa indagando qual é a
capacidade do intelecto humano para conhecer e demonstrar a verdade dos
conhecimentos. Em outras palavras, a Filosofia começa pela reflexão, isto é,
pela volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer sua capacidade de
conhecer.
O ponto de partida é o sujeito do conhecimento como
consciência de si reflexiva, isto é, como consciência que conhece sua
capacidade de conhecer. O sujeito do conhecimento é um intelecto no interior de
uma alma, cuja natureza ou substância é completamente diferente da natureza ou
substância de seu corpo e dos demais corpos exteriores.
Por isso, a segunda pergunta da Filosofia, depois de
respondida a pergunta sobre a capacidade de conhecer, é: Como o espírito ou
intelecto pode conhecer o que é diferente dele? Como pode conhecer os corpos da
Natureza?
2. A resposta à pergunta acima constituiu a segunda grande
mudança intelectual dos modernos, e essa mudança diz respeito ao objeto do
conhecimento. Para os modernos, as coisas exteriores (a Natureza, a vida social
e política) podem ser conhecidas desde que sejam consideradas representações,
ou seja, ideias ou conceitos formulados pelo sujeito do conhecimento.
Isso significa, por um lado, que tudo o que pode ser
conhecido deve poder ser transformado num conceito ou numa ideia clara e
distinta, demonstrável e necessária, formulada pelo intelecto; e, por outro
lado, que a Natureza e a sociedade ou política podem ser inteiramente
conhecidas pelo sujeito, porque elas são inteligíveis em si mesmas, isto é, são
racionais em si mesmas e propensas a serem representadas pelas ideias do
sujeito do conhecimento.
3. Essa concepção da realidade como intrinsecamente racional
e que pode ser plenamente captada pelas ideias e conceitos preparou a terceira
grande mudança intelectual moderna. A realidade, a partir de Galileu, é
concebida como um sistema racional de mecanismos físicos, cuja estrutura
profunda e invisível é matemática. O “livro do mundo”, diz Galileu, “está
escrito em caracteres matemáticos”.
A realidade, concebida como sistema racional de mecanismos físico-matemáticos,
deu origem à ciência clássica, isto é, à mecânica, por meio da qual são
descritos, explicados e interpretados todos os fatos da realidade: astronomia,
física, química, psicologia, política, artes são disciplinas cujo conhecimento
é de tipo mecânico, ou seja, de relações necessárias de causa e efeito entre um
agente e um paciente.
A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas
que podem ser conhecidas e transformadas pelo homem. Nasce a ideia de
experimentação e de tecnologia (conhecimento teórico que orienta as
intervenções práticas) e o ideal de que o homem poderá dominar tecnicamente a
Natureza e a sociedade.
Predomina, assim, nesse período, a ideia de conquista
científica e técnica de toda a realidade, a partir da explicação mecânica e
matemática do Universo e da invenção das máquinas, graças às experiências
físicas e químicas.
Existe também a convicção de que a razão humana é capaz de
conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções e, pela
vontade orientada pelo intelecto, é capaz de governá-las e dominá-las, de sorte
que a vida ética pode ser plenamente racional.
A mesma convicção orienta o racionalismo político, isto é, a
ideia de que a razão é capaz de definir para cada sociedade qual o melhor
regime político e como mantê-lo racionalmente.
Nunca mais, na história da Filosofia, haverá igual confiança
nas capacidades e nos poderes da razão humana como houve no Grande Racionalismo
Clássico. Os principais pensadores desse período foram: Francis Bacon, Descartes,
Galileu, Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibniz, Malebranche, Locke, Berkeley,
Newton, Gassendi.
6] Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (meados do século
XVIII ao começo do século XIX)
Esse período também crê nos poderes da razão, chamada de As
Luzes (por isso, o nome Iluminismo). O Iluminismo afirma que:
● pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a
felicidade social e política (a Filosofia da Ilustração foi decisiva para as
ideias da Revolução Francesa de 1789);
● a razão é capaz de evolução e progresso, e o homem é um ser
perfectível. A perfectibilidade consiste em liberar-se dos preconceitos
religiosos, sociais e morais, em libertar-se da superstição e do medo, graças
ao conhecimento, às ciências, às artes e à moral;
● o aperfeiçoamento da razão se realiza pelo progresso das
civilizações, que vão das mais atrasadas (também chamadas de “primitivas” ou
“selvagens”) às mais adiantadas e perfeitas (as da Europa Ocidental);
● há diferença entre Natureza e civilização, isto é, a
Natureza é o reino das relações necessárias de causa e efeito ou das leis
naturais universais e imutáveis, enquanto a civilização é o reino da liberdade
e da finalidade proposta pela vontade livre dos próprios homens, em seu
aperfeiçoamento moral, técnico e político.
Nesse período há grande interesse pelas ciências que se
relacionam com a ideia de evolução e, por isso, a biologia terá um lugar
central no pensamento ilustrado, pertencendo ao campo da filosofia da vida. Há
igualmente grande interesse e preocupação com as artes, na medida em que elas
são as expressões por excelência do grau de progresso de uma civilização.
Data também desse período o interesse pela compreensão das
bases econômicas da vida social e política, surgindo uma reflexão sobre a
origem e a forma das riquezas das nações, com uma controvérsia sobre a
importância maior ou menor da agricultura e do comércio, controvérsia que se
exprime em duas correntes do pensamento econômico: a corrente fisiocrata (a
agricultura é a fonte principal das riquezas) e a mercantilista (o comércio é a
fonte principal da riqueza das nações).
Os principais pensadores do período foram: Hume, Voltaire,
D’Alembert, Diderot, Rousseau, Kant, Fichte e Schelling (embora este último
costume ser colocado como filósofo do Romantismo).
7] Filosofia Contemporânea
Abrange o pensamento filosófico que vai de meados do século
XIX e chega aos nossos dias. Esse período, por ser o mais próximo de nós,
parece ser o mais complexo e o mais difícil de definir, pois as diferenças
entre as várias filosofias ou posições filosóficas nos parecem muito grandes
porque as estamos vendo surgir diante de nós.
Para facilitar uma visão mais geral do período, faremos, no
próximo capítulo, uma contraposição entre as principais ideias do século XIX e
as principais correntes de pensamento do século XX.
Referência Bibliográfica:
CHAUÍ, Marilena. Principais períodos da história da Filosofia
in Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.