terça-feira, 20 de abril de 2021

3º Ano / 2º Bim. Texto: Temas Políticos da Atualidade.

Filosofia

Prof.: Prof. Fil. Antonio Moraes

Série: 3º Ano

Texto: Temas Políticos da Atualidade


ESTUDO DIRIGIDO ACERCA DA TEMÁTICA

TEMA POLITICOS DA ATUALIDADE.


TEMAS POLÍTICOS

I. CIDADANIA

A história da cidadania confunde-se em muito com a história das lutas pelos direitos humanos. A cidadania esteve e está em permanente construção; é um referencial de conquista da humanidade, através daqueles que sempre lutam por mais direitos, maior liberdade, melhores garantias individuais e coletivas, e não se conformam frente às dominações arrogantes, seja do próprio Estado ou de outras instituições ou pessoas que não desistem de privilégios, de opressão e de injustiças contra uma maioria desassistida e que não se consegue fazer ouvir, exatamente por que se lhe nega a cidadania plena cuja conquista, ainda que tardia, não será obstada. Ser cidadão é ter consciência de que é sujeito de direitos. Direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade, enfim, direitos civis, políticos e sociais. Mas este é um dos lados da moeda. Cidadania pressupõe também deveres. O cidadão tem de ser cônscio das suas responsabilidades enquanto parte integrante de um grande e complexo organismo que é a coletividade, a nação, o Estado, para cujo bom funcionamento todos têm de dar sua parcela de contribuição. Somente assim se chega ao objetivo final, coletivo: a justiça em seu sentido mais amplo, ou seja, o bem comum.

 

II. DEMOCRACIA

O conceito de democracia, tradicionalmente, um objeto de filosofia política, ao fazer parte do texto constitucional, torna-se um conceito jurídico. Em termos gerais, a democracia é vista como um regime de governo, mas a presença desse conceito nos textos constitucionais exige uma interpretação que elucide seu significado jurídico. O conceito de democracia só pode ser interpretado mediante uma determinada concepção de democracia. É necessário, portanto, analisar a distinção entre conceito e concepção. O conceito é representado pelas "proposições mais genéricas e abstratas" sobre um fenômeno, ao passo de que as concepções consistem em "refinamentos mais concretos ou subinterpretações dessas proposições mais abstratas". Sendo a democracia um modo de exercer o poder político, parece apropriado relacioná-la à constituição a partir do conceito de poder. Desse modo, para nossos fins, assumimos que a constituição consiste na organização fundamental do

poder em determinada comunidade. O sujeito da democracia é o povo (comunidade), o funcionamento da democracia é regido por uma concepção institucionalista do Estado de Direito e a finalidade da democracia é o bem comum como um bem de todos.


III. NEOLIBERALISMO

O neoliberalismo deu seus primeiros passos após a segunda Guerra Mundial, decorrente da crise do capital, com seus pressupostos históricos nos ideais iluministas. O neoliberalismo é um conjunto de ideias políticas e econômicas capitalistas que defende a não participação do estado na economia, onde deve haver total liberdade de comércio, para garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país. Os autores neoliberalistas afirmam que o estado é o principal responsável por anomalias no funcionamento do mercado livre, porque o seu grande tamanho e atividade constrangem os agentes econômicos privados. O neoliberalismo defende a pouca intervenção do governo no mercado de trabalho, a política de privatização de empresas estatais, a livre circulação de capitais internacionais e ênfase na globalização, a abertura da economia para a entrada de multinacionais, a adoção de medidas contra o protecionismo econômico, a diminuição dos impostos e tributos excessivos etc. O ponto em questão é a critica na intervenção absolutista do Estado nas atividades econômicas. O poder constituinte cria um equilíbrio entre os setores públicos e privados. O Estado Social garante a liberdade, mas uma liberdade que vai além da igualdade do liberalismo, é uma liberdade com dignidade. Garante igualdade, mas não apenas a igualdade formal do Estado Liberal, mas uma igualdade material, com redistribuição. Prevê fraternidade, não como um favor do liberalismo, mas como direitos sociais, uma obrigação do Estado.

IV. VIOLÊNCIA URBANA 

A violência urbana é um problema que afeta a ordem pública e toda a sociedade, independente de classe social, englobando diversos tipos de violência: doméstica, escolar, dentro das empresas, contra idosos, crianças, entre outras. Esse mal vem amedrontado as pessoas e muitas vezes impedindo-as de realizar diversos tipos de tarefas. Não há uma causa específica para a violência, apesar de muitos especialistas apontarem a má distribuição de renda como fator principal.


V. SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA

A sociedade civil designa todas as formas de ação social levadas a cabo por indivíduos ou grupos que não emanam do Estado nem são por ele determinadas. O termo sociedade civil organizada aplica-se às estruturas organizativas cujos membros servem o interesse geral através de um processo democrático, atuando como intermediários entre os poderes públicos e os cidadãos. Exemplo: as organizações não governamentais e as comunidades religiosas.

 VI. IDEOLOGIA

Ideologia é um conjunto de ideias ou pensamentos de uma pessoa ou de um grupo de indivíduos. A ideologia pode estar ligada a ações políticas, econômicas e sociais. O termo ideologia foi usado de forma marcante pelo filósofo Antoine Destutt de Tracy. O conceito de ideologia foi muito trabalhado pelo filósofo alemão Karl Marx, que ligava a ideologia aos sistemas teóricos (políticos, morais e sociais) criados pela classe social dominante. De acordo com Marx, a ideologia da classe dominante tinha como objetivo manter os mais ricos no controle da sociedade.

VII. ALIENAÇÃO

Esse termo, que na linguagem comum significa perda de posse, de um afeto ou dos poderes mentais. A alienação é a diminuição da capacidade dos indivíduos em pensar ou agir por si próprios. Os indivíduos alienados não têm interesse em ouvir opiniões alheias, e apenas se preocupam com o que lhe interessa, por isso são pessoas alienadas.








2º Ano / 2º Bim. Texto: A Ciência Humanas

Disciplina: Filosofia

Prof.: Prof. Fil. Antonio Moraes

Série: 2º Ano

Texto: A Ciência Humanas (pág. 302/310)

Livro: Iniciação à Filosofia

Autora: Marilena Chaui

Editora: Ática, 2016


ESTUDO DIRIGIDO ACERCA DA TEMÁTICA

AS CIÊNCIAS HUMANAS (PÁG. 303/310).


 São possíveis ciências humanas?

A expressão ciências humanas refere-se àquelas ciências que têm o próprio ser humano como objeto. A situação de tais ciências é muito especial. Em primeiro lugar, porque seu objeto é bastante recente: o homem como objeto científico é uma ideia surgida apenas no século XIX.

Surgiram depois que as ciências matemáticas e naturais que já haviam definido a ideia de cientificidade, de métodos e conhecimentos científicos, tratando o homem como uma coisa natural matematizável e experimentável.  As ciências humanas procuraram estudar seu objeto empregando conceitos, métodos e técnicas propostos pelas ciências da Natureza.

 

Como, entretanto, não era possível realizar uma transposição integral e perfeita dos métodos, das técnicas e das teorias naturais para os estudos dos fatos humanos, as ciências humanas acabaram trabalhando por analogia com as ciências naturais e seus resultados tornaram-se muito contestáveis e pouco científicos.

Essa situação levou muitos cientistas e filósofos a duvidar da possibilidade de ciências que tivessem o homem como objeto.

A ciência busca as leis objetivas gerais, universais e necessárias dos fatos. Como estabelecer leis objetivas para o que é essencialmente subjetivo, como o psiquismo humano?

A ciência lida com fatos regidos pela necessidade causal ou pelo princípio do determinismo universal. O homem é dotado de razão, vontade e liberdade, capaz de criar fins e valores, de escolher entre várias opções possíveis. Como dar uma explicação científica necessária àquilo que, por essência, é contingente, pois é livre e age por liberdade?

 

O humano como objeto de investigação

1. Período do humanismo: ideia renascentista da dignidade do homem como centro do Universo, destinado a dominar e controlar a Natureza. Onde surge a ideia de civilização. O humanismo não separa homem e Natureza, mas considera o homem um ser natural diferente dos demais, manifestando essa diferença como um ser racional e livre, agente ético, político, técnico e artístico.

2. Período do positivismo: inicia-se com Augusto Comte, para quem a humanidade atravessa três etapas progressivas, indo da superstição religiosa à metafísica e à teologia, para chegar, finalmente, à ciência positiva, ponto final do progresso humano.

 A psicologia positivista afirma que seu objeto não é o psiquismo enquanto consciência, mas enquanto comportamento observável que pode ser tratado com o método experimental das ciências naturais, afirmando que o fato social deve ser tratado como uma coisa, à qual são aplicados os procedimentos de análise e síntese criados pelas ciências naturais. Os elementos ou átomos sociais são os indivíduos, obtidos por via da análise; as relações causais entre os indivíduos, recompostas por via da síntese, constituem as instituições sociais (família, trabalho, religião, Estado, etc.).

3. Período do historicismo: insiste na diferença profunda entre homem e Natureza e entre ciências naturais e humanas, chamadas por Dilthey de ciências do espírito ou da cultura. Os fatos humanos são históricos, dotados de valor e de sentido, de significação e finalidade e devem ser estudados com essas características que os distinguem dos fatos naturais.

O fato humano é histórico ou temporal: surge no tempo e se transforma no tempo, devendo ser compreendidos, simultaneamente, como particularidades históricas ou “visões de mundo” específicas ou autônomas e como etapas ou fases do desenvolvimento geral da humanidade, isto é, de um processo causal universal, que é o progresso.

 

O historicismo resultou em dois problemas: o relativismo e a subordinação a uma filosofia da História.

 

Relativismo: as leis científicas são válidas apenas para uma determinada época e cultura, não podendo ser universalizadas.

Filosofia da História: os indivíduos humanos e as instituições socioculturais só são compreensíveis se seu estudo científico subordinar-se a uma teoria geral da História que considere cada formação sociocultural seja como “visão de mundo” particular, seja como etapa de um processo histórico universal.

 

Para escapar dessas consequências, Max Weber propôs que as ciências humanas trabalhassem seus objetos como tipos ideais e não como fatos empíricos, que permitem compreender e interpretar fatos particulares observáveis.

 

3 Escolas Escolas Filosóficas: Fenomenologia, estruturalismo e marxismo.

Consolidou-se a partir das contribuições de três correntes de pensamento, que, entre os anos 20 e 50 do século passado, provocaram uma ruptura epistemológica e uma revolução científica no campo das humanidades.

 

A contribuição da fenomenologia

A fenomenologia introduziu a noção de essência ou significação como um conceito que permite diferenciar internamente uma realidade de outras.

Dessa maneira, começou por permitir que fosse feita a diferença rigorosa entre a esfera ou região da essência “Natureza” e a esfera ou região da essência “homem”. A seguir, permitiu que a esfera ou região “homem” fosse internamente diferenciada em essências diversas: o psíquico, o social, o histórico, o cultural. A validade de seus projetos e campos científicos de investigação: psicologia, sociologia, história, antropologia, linguística, economia.

A psicologia volta-se para o estudo dos fatos psíquicos diretamente observáveis. Ao radicalizar essa concepção, a psicologia positivista fazia uma soma de elementos físico-químicos, anatômicos e fisiológicos, de sorte que não havia, propriamente falando, um objeto científico denominado “o psíquico”, mas efeitos psíquicos de causas não psíquicas, tendo como objeto o comportamento como um fato externo, observável e experimental.

 

Recusando a perspectiva da filosofia da História, a sociologia positivista fazia da sociedade uma soma de ações individuais e tomava o indivíduo como elemento observável e causa do social, de sorte que não havia a sociedade como um objeto ou uma realidade propriamente dita, mas um efeito de ações psicológicas dos indivíduos.

Em resumo, antes da fenomenologia, cada uma das ciências humanas desfazia seu objeto num agregado de elementos de natureza diversa do todo, estudava as relações causais externas entre esses elementos e as apresentava como explicação e lei de seu objeto de investigação.

 

A contribuição do estruturalismo

O estruturalismo permitiu que as ciências humanas livrando-as das explicações mecânicas de causa e efeito, sem abandonar a ideia de lei científica.

As estruturas são totalidades organizadas segundo princípios internos que lhes são próprios e que comandam seus elementos ou partes, seu modo de funcionamento e suas possibilidades de transformação temporal ou histórica.

A primeira das ciências humanas a se transformar profundamente, graças à ideia de estrutura foi a antropologia social. Ao contrário do que pensava a antropologia positivista, as chamadas “sociedades primitivas” não são uma etapa atrasada da evolução, mas uma forma objetiva de organizar as relações sociais de modo diferente do nosso.

As estruturas dessas sociedades são baseadas no princípio do valor ou da equivalência, que permite a troca e a circulação de certos seres, de maneira a constituir o todo da sociedade. O modo como cada um desses sistemas ou estruturas parciais se organiza e se relaciona com os outros define a estrutura geral e específica de uma sociedade “primitiva”.

 

A contribuição do marxismo

O marxismo permitiu compreender os fatos humanos mais originários ou primários são as relações dos homens com a Natureza na luta pela sobrevivência, dando origem às primeiras instituições sociais: família, pastoreio e agricultura, troca e comércio.

Assim, as primeiras instituições sociais são econômicas. Para conservá-las, o grupo social cria instituições de poder que sustentem as relações sociais e as ideias-valores-símbolos produzidos.

Dessa maneira, o marxismo permitiu às ciências humanas compreender as articulações necessárias entre o plano econômico e o das instituições sociais e políticas. Puderam também compreender que as mudanças históricas resultam de lentos processos sociais, econômicos e políticos, baseados na forma assumida pela propriedade dos meios de produção e pelas relações de trabalho.

Em resumo, a fenomenologia permitiu a definição e a delimitação dos objetos das ciências humanas; o estruturalismo permitiu uma metodologia que chega às leis dos fatos humanos, sem que seja necessário imitar ou copiar os procedimentos das ciências naturais; o marxismo permitiu compreender que os fatos humanos são historicamente determinados e que a historicidade, longe de impedir que sejam conhecidos, garante a interpretação racional deles e o conhecimento de suas leis.

Com essas contribuições, foi possível demonstrar que os fenômenos humanos são dotados de sentido e significação, são históricos, possuem leis próprias, são diferentes dos fenômenos naturais e podem ser tratados cientificamente.

 

Os campos de estudo das ciências humanas

Se tomarmos as ciências humanas de acordo com seus campos de investigação, podemos distribuí-las da seguinte maneira:

 

Psicologia

 - estudo das estruturas, do desenvolvimento das operações da mente humana;

- estudo das relações intersubjetivas dos indivíduos em grupo e em sociedade;

- estudo das patologias da mente humana

 

Sociologia

- estudo das origens e formas das sociedades, tipos de organizações sociais, econômicas e políticas;

- estudo das relações sociais e de suas transformações;

- estudo das instituições sociais;

 

Economia

- estudo das condições materiais  de produção e reprodução da riqueza;

- estudo das estruturas produtivas segundo o critério da divisão social do trabalho;

- estudo da origem, do desenvolvimento, das crises, das transformações e da reprodução das formas econômicas;

 

Antropologia

- estudo das estruturas ou formas culturais em sua singularidade ou particularidade, incluindo: religião, formas de poder, formas de parentesco, formas de comunicação, organização da vida econômica, artes, técnicas, costumes, crenças, formas de pensamento e de comportamento, etc.;

- estudo das comunidades ditas “primitivas”;

 

História

- estudo do desenvolvimento das formações sociais em seus aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais;

- estudo das transformações das sociedades e comunidades como resultado e expressão de conflitos, lutas, contradições internas às formações sociais;

- estudo das transformações das sociedades e comunidades sob o impacto de acontecimentos políticos, econômicos, sociais e culturais;

- estudo dos diferentes suportes da memória coletiva (documentos, monumentos, pinturas, fotografias, filmes, moedas, lápides funerárias, testemunhos e relatos orais e escritos, etc.).

 

Linguística

- estudo das estruturas da linguagem como sistema dotado de princípios internos de funcionamento e transformação;

- estudo das relações entre língua e fala ou palavra;

- estudo das relações entre a linguagem e os outros sistemas de signos e símbolos ou outros sistemas de comunicação.

 

Psicanálise

- estudo da estrutura e do funcionamento do inconsciente;

- estudo das patologias ou perturbações inconscientes e suas expressões conscientes.

 

Devemos observar que:

Embora com campos e métodos específicos, as ciências humanas tendem a apresentar resultados mais completos e satisfatórios quando trabalham interdisciplinarmente, de modo a abranger os múltiplos aspectos simultâneos e sucessivos dos fenômenos estudados;

A antropologia e psicanálise suscitaram o aparecimento de uma nova disciplina científica: a semiologia, que estuda os diferentes sistemas de signos e símbolos que constituem as múltiplas e diferentes formas de comunicação. Conduziu à ideia de que signos e símbolos estão referidos às relações sociais e às suas condições históricas, cada sociedade e cada cultura constituindo-se como um sistema que  ntegra e totaliza vários subsistemas de signos e símbolos.

Esse método é a semiótica, tomada como metodologia própria às ciências humanas e que é capaz de unificá-las.




1º Ano / 2º Bim. Texto: Períodos e Campos de Investigação da Filosofia Grega.

Disciplina: Filosofia

Prof.: Prof. Fil. Antonio Moraes

Série: 1º Ano

Texto: Períodos e Campos de Investigação da Filosofia Grega (pág. 40/49)

Livro: Iniciação à Filosofia

Autora: Marilena Chaui

Editora: Ática, 2016


ESTUDO DIRIGIDO ACERCA DA TEMÁTICA

PERÍODOS E CAMPOS DE INVESTIGAÇÃO DA FILOSOFIA GREGA (PÁG. 40/49).

 OS PERÍODOS DA FILOSOFIA GREGA

A história da filosofia confunde-se com a história do povo da Grécia, para entender os períodos da filosofia, faz-se necessário entender os períodos da história grega que costuma ser dividida em quatro fases ou épocas, quais sejam:

1 - A da Grécia homérica, narradas nos livros a Ilíada e a Odisseia, narrados pelo poeta Homero.

2 – A da Grécia arcaica ou dos sete sábios, que vai do século VII ao século V antes de Cristo. Nesta época foram fundadas as principais cidades gregas.

3 – A da Grécia clássica, nos séculos V e IV antes de Cristo, quando a democracia se desenvolve.

4 - A da Grécia helenística, a partir do século IV a. C, quando a Grécia perde sua hegemonia e cai, primeiro para a Macedônia e depois para Roma, terminando assim sua história de independência.

 

Ressalte-se que os períodos da filosofia não correspondem necessariamente a esta divisão, já que a filosofia não aparece na Grécia homérica e surge na Grécia arcaica, e seu apogeu dá-se durante a Grécia clássica.

Os quatro grandes períodos da filosofia grega são:

1 – Período pré-socrático ou cosmológico, quando a filosofia se ocupa com a origem do mundo e causa das transformações naturais. Vai do século VII ao século V a. C.

2 - Período socrático ou antropológico (ântropos, em grego significa homem). A filosofia investiga as questões humanas. Vai do século V e todo o século IV a. C.

3. – Período sistemático, do final de século IV ao final do século III a. C. A filosofia busca sistematizar e reunir tudo que foi pensado até o momento sobre a cosmologia e a antropologia.

4 – Período helenístico ou greco-romano. Vai do final do século III a. C. Até o século VI d. C. Neste período a filosofia ocupa-se com questões como a ética, o conhecimento humano e das relações entre o homem e a natureza e de ambos com Deus.

 

FILOSOFIA GREGA

Os dois primeiros períodos da filosofia grega, tem como referência, o filósofo Sócrates, de Atenas.

 

PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO OU COSMOLÓGICO:

Os principais filósofos pré-socráticos são:

Da Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso;

Da Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento;

Da Escola Eleata: Parmênides de Eléia e Zenão de Eléia;

Da Escola da Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômena, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.

Características do período pré-socrático ou cosmológico:

1 - A explicação racional e sistemática da natureza, na qual os seres humanos fazem parte e em assim sendo explica também à origem e a mudança dos seres humanos.

2 – A cosmologia nega a criação do mundo como se este tivesse surgido do nada (questiona assim algumas religiões, que dão ao mundo uma origem divina), por isso afirma “nada vem do nada, e nada volta ao nada”.

3 – O fundo eterno, onde tudo nasce e tudo volta é visível apenas para o pensamento.

4 – O fundo eterno chama-se physis (do grego physis, que significa fazer surgir, fazer brotar, produzir, fazer nascer).

5 – Embora a physis (o elemento primordial eterno) seja imperecível, ela dá origem a todos os seres variados e diferentes do mundo e estes são perecíveis e mortais.

6 – Afirma que todos os seres estão em contínua transformação, ou seja, o mundo esta em mudança e movimentações continuas e mesmo assim não perde sua forma, ordem ou estabilidade. O movimento do mundo é chamado de devir, e este segue leis que o pensamento conhece. O devir é a passagem contínua de uma coisa para o seu estado contrário, obedecendo às leis da physis. 

 

PERÍODO SOCRÁTICO OU ANTROPÓLOGICO:

Atenas tornou-se o centro da vida política e cultural da Grécia. Foi o período de esplendor de Atenas, conhecido como Século de Péricles. É a época de florescimento da democracia grega que afirmava a igualdade de todos os homens adultos. Estavam excluídos desta democracia: as mulheres, escravos, crianças, estrangeiros e velhos.

Quando não havia democracia, dominavam as famílias aristocráticas que se utilizaram dos poetas gregos Homero e Hesíodo para defender suas ideias. Homero e Hesíodo defendiam as virtudes admiradas pelos deuses, tais como a coragem diante da morte, a beleza do corpo e a Arete (excelência e superioridade).

No Século de Péricles o ideal é a formação da educação do cidadão, a Arete (excelência e superioridade) é a virtude cívica. Para ministrar esta nova educação, com a lógica cívica, surgiram os sofistas e os mais destacados deles foram Protágoras de Abdera, Górgias de Leontini e Isócrates de Atenas.

Os sofistas afirmavam que os ensinamentos dos cosmologistas estavam errados e se apresentavam como mestres da oratória, retórica (características da persuasão), afirmando que era possível ensinar a arte da persuasão para que todos fossem bons cidadãos, ou seja, ensinavam aos jovens a arte de argumentar e persuadir.

O filosofo Sócrates (patrono da filosofia), rebelou-se contra os sofistas, pois achava que estes corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira valer tanto quanto a verdade. Sócrates concordava com os sofistas apenas no combate aos cosmologistas.

Para Sócrates, antes de conhecer a natureza, o homem deveria conhecer a si mesmo, eis porque o período socrático, também e conhecido como período antropológico, pois é voltado para o conhecimento do homem.

Platão, discípulo de Sócrates traçou um retrato de Sócrates como sendo um filósofo que andava pelas ruas e praças de Atenas fazendo questionamentos, ou seja, tentando fazer com que seus ouvintes refletissem.

Sócrates questionava ideias e valores dos gregos e seus interlocutores não sabiam responder, assim como ele, que respondia que também não sabia, ou seja, demonstrava a consciência da própria ignorância, que é o começo da filosofia.

Sócrates não procurava opiniões, mas sim a essência da ideia, da coisa, do valor, ou seja, um conceito de nós mesmos e não opiniões a respeito.

A diferença de opinião e conceito é que a opinião é instável, mutável depende de cada um, de cada época e local, o conceito por sua vez é uma verdade intemporal, universal e necessária que o pensamento descobre.

Ao fazer seus interlocutores pensar e questionar, Sócrates tornou-se para os poderosos de Atenas um perigo, pois fazia a juventude pensar e por isso foi acusado de desrespeitar os deuses, corromper os jovens e violar as leis. Sócrates não se defendeu, pois se recusou a aceitar as acusações e ainda recusava-se a deixar de filosofar. Foi condenado a tomar um veneno (a cicuta) e obrigado a suicidar-se.

Tendo em vista que Sócrates nunca escreveu, seus pensamentos foram escritos por seus discípulos e é com base nestas obras, dentre elas uma escrita por Platão, intitulada Apologia de Sócrates que podemos ter uma noção do período socrático. Baseado nas obras dos discípulos de Sócrates podemos elencar algumas características deste período:

1 – A filosofia preocupa-se com questões humanas, tais como ideias, moral, valores, crenças, entre outras.

2 – O ponto de partida da filosofia é a reflexão, que nada mais é do que a volta que o pensamento faz sobre si mesmo para conhecer-se. É a consciência conhecendo a si mesma.

3 – Os pensamentos devem oferecer a si mesmo condições e meios para saber o que verdadeiro e como alcançá-lo em tudo que busquemos.

4 – A filosofia está voltada para a definição das virtudes morais e políticas dos seres humanos, tanto como indivíduos, quanto como cidadãos.

5 – Cabe à filosofia encontrar a definição, o conceito das virtudes, para além das opiniões.

6 – E feita à separação entre ideia e opinião. A opinião é pessoal e sofre influências e a ideia é embasada em critérios, pesquisas, entre outras e utiliza-se do pensamento.

7 – A reflexão e o pensamento permitem ao espírito humano conhecer a verdade invisível, imutável, universal, e necessária.

8 – A opinião passa a ser considerada falsa por ser contraditória, inconsistente, mutável e deve ser abandonada.

9 – A diferença entre Sócrates e Platão de um lado e os sofistas de outros. Os primeiros consideram as opiniões fontes de erros, mentira e falsidade, enquanto que os sofistas aceitam a validade das opiniões.

 

PERÍODO SISTEMÁTICO:

O principal nome deste período é o filósofo Aristóteles de Estagira, discípulo de Platão.

Após quatro séculos de filosofia, Aristóteles apresenta um grande estudo de todo o saber que foi produzido até então pelos gregos se utilizando da filosofia que, portanto, não é um saber específico, mas uma forma de conhecer todas as coisas, apenas se utilizando de procedimentos diferentes para cada campo de coisas que se conhece. Cada saber, no campo que lhe é próprio possui seu objeto, procedimentos, exposição e formas próprias de explicação, portanto cada campo do conhecimento é uma ciência (em grego episteme), Aristóteles afirma que antes de um conhecimento constituir seu objeto e seu campo próprios, é necessário conhecer as leis gerais que governam o pensamento, ou seja, a lógica. Aristóteles foi o criador da lógica como instrumento do conhecimento em qualquer campo do saber. A lógica é o instrumento para a ciência e por isso é indispensável para a filosofia.

 

Os campos do conhecimento filosófico:

 

Aristóteles dividiu os campos do conhecimento filosófico em:

1 - Ciências produtivas. Estudam as partes produtivas ou técnicas e que resultam em um produto ou uma obra. Ex. Arquitetura, economia, o artesanato, o comércio, a medicina, etc.

2 – Ciências práticas: Estudam as práticas humanas enquanto ações. Ex. A ética, a política.

3 - Ciências teoréticas, contemplativas ou teóricas (theoria em grego significa contemplação da verdade): Estudam as coisas que existem independentes do homem ou de suas ações e, portanto só podem ser contempladas por eles. São as ciências naturais e divinas. Aristóteles classifica esta ciência pelo grau de superioridade da forma como segue:

3.1 – Ciência das coisas naturais submetidas à mudança ou ao devir (passagem continua de uma coisa a seu estado contrário). Ex. Física, biologia, meteorologia, psicologia (psychê = alma, portanto psicologia é o estudo da alma), que também sofre variações.

3.2 – Ciência das coisas naturais que não se submetem à mudança ou ao devir. Ex. Matemática, astronomia (os gregos acreditavam que os astros eram imutáveis).

3.3 – Ciência da realidade pura, conhecida como metafísica. Trata-se daquilo que deve haver em qualquer realidade, é o que Aristóteles chama de ser ou substancia de tudo o que existe.

3.4 – Ciência teórica das coisas divinas que são a causa e a finalidade de tudo que existe na natureza e no homem, conhecida como teologia (theion – coisas divinas). Para Aristóteles a filosofia encontra seu ponto mais alto na teologia e na metafísica, de onde, acredita que ele, deriva todos os outros conhecimentos.

 

A partir da divisão aristotélica, defina-se, os campos de investigação filosófica, que só foram corrigidos no século XIX.

 

São três estes campos de investigação filosófica:

 

1 – O do conhecimento da realidade última de todos os seres, conhecido como ontologia (estudo dos seres, on = ser e ta = seres) Ex. Metafísica, teologia.

2 – O do conhecimento das ações humanas, como a ética, a política, os valores morais e políticos.

3 – O conhecimento da capacidade humana de se conhecer, isto é o conhecimento do próprio pensamento, em suas leis gerais e em suas leis especificas em cada ciência.

 

PERÍODO HELENÍSTICO:

É o último período da filosofia antiga, quando a polis grega desaparece deixando assim de ser referência para os filósofos, tendo em vista que a Grécia se encontra sob domínio de Roma.

É o período chamado de filosofia cosmopolita, visto que os romanos ajudaram a difundir a filosofia grega por seus domínios. É a época em que a filosofia passa a dar explicações totalizantes sobre a natureza, o homem e as relações entre ambos e deles com as divindades. Datam deste período quatro sistemas que influenciaram o pensamento cristão. O epicurismo, o ceticismo, o estoicismo e neoplatonismo. Inicia também nesta época a orientalização da filosofia nos aspectos místicos e religiosos em função da dimensão da influência romana no oriente que agregou alguns valores culturais dos orientais.


Música: Pensamento

Banda: Hanói-Hanói

 

Pensamento vem de fora

E pensa que vem de dentro

Pensamento que expectora

O que no meu peito penso.

 

Pensamento a mil por hora,

Tormento a todo momento

Por que é que eu penso agora

Sem o meu consentimento?

Se tudo que comemora

Tem o seu impedimento;

Se tudo aquilo que chora

Cresce com seu fermento

Pensamento dê o fora

Saia do meu pensamento.

Pensamento, vá embora

Desapareça no vento

E não jogarei sementes

Em cima do seu cimento   

















sexta-feira, 16 de abril de 2021

2º Ano de Filo / 1º Bim. Texto A Ciência na História.

Disciplina: Filosofia

Prof.: Prof. Fil. Antonio Moraes

Série: 2º Ano

Texto: A Ciência na história (pág. 293/301)

Livro: Iniciação à Filosofia

Autora: Marilena Chaui

Editora: Ática, 2016


ESTUDO DIRIGIDO ACERCA DA TEMÁTICA 

A CIÊNCIA NA HISTÓRIA

As três principais concepções de ciências

                As três principais concepções de ciência historicamente, três têm sido as principais concepções de ciência ou de ideais de cientificidade: o racionalista, cujo modelo de objetividade é a matemática; o empirista, que toma o modelo de objetividade da medicina grega e da história natural do século XVII; e o construtivista, cujo modelo de objetividade advém da ideia de razão como conhecimento aproximativo.

                A concepção racionalista – que se estende dos gregos até o final do século XVII – afirma que a ciência é um conhecimento racional dedutivo e demonstrativo como a matemática, portanto, capaz de provar a verdade necessária e universal de seus enunciados e resultados, sem deixar qualquer dúvida possível. Uma ciência é a unidade sistemática de axiomas, postulados e definições, que determinam a natureza e as propriedades de seu objeto, e de demonstrações, que provam as relações de causalidade que regem o objeto investigado.

                O objeto científico é uma representação intelectual universal, necessária e verdadeira das coisas representadas e corresponde à própria realidade, porque esta é racional e inteligível em si mesma. As experiências científicas são realizadas apenas para verificar e confirmar as demonstrações teóricas e não para produzir o conhecimento do objeto, pois este é conhecido exclusivamente pelo pensamento. O objeto científico é matemático, porque a realidade possui uma estrutura matemática, ou como disse Galileu, “o grande livro da Natureza está escrito em caracteres matemáticos”.

                A concepção empirista – que vai da medicina grega e Aristóteles até o final do século XIX – afirma que a ciência é uma interpretação dos fatos baseada em observações e experimentos que permitem estabelecer induções e que, ao serem completadas, oferecem a definição do objeto, suas propriedades e suas leis de funcionamento. A teoria científica resulta das observações e dos experimentos, de modo que a experiência não tem simplesmente o papel de verificar e confirmar conceitos, mas tem a função de produzi-los. Eis por que, nesta concepção, sempre houve grande cuidado para estabelecer métodos experimentais rigorosos, pois deles dependia a formulação da teoria e a definição da objetividade investigada.

                Essas duas concepções de cientificidade possuíam o mesmo pressuposto, embora o realizassem de maneiras diferentes. Ambas consideravam que a teoria científica era uma explicação e uma representação verdadeira da própria realidade, tal como está é em si mesma. A ciência era uma espécie de raio-X da realidade. A concepção racionalista era hipotético-dedutiva, isto é, definia o objeto e suas leis e disso deduzia propriedades, efeitos posteriores, previsões. A concepção empirista era hipotético-indutiva, isto é, apresentava suposições sobre o objeto, realizava observações e experimentos e chegava à definição dos fatos, às suas leis, suas propriedades, seus efeitos posteriores e previsões.

                A concepção construtivista – iniciada no século passado – considera a ciência uma construção de modelos explicativos para a realidade e não uma representação da própria realidade. O cientista combina dois procedimentos – um, vindo do racionalismo, e outro, vindo do empirismo – e a eles acrescenta um terceiro, vindo da ideia de conhecimento aproximativo e corrigível.

                Como o racionalista, o cientista construtivista exige que o método lhe permita e lhe garanta estabelecer axiomas, postulados, definições e deduções sobre o objeto científico. Como o empirista, o construtivista exige que a experimentação guie e modifique axiomas, postulados, definições e demonstrações. No entanto, porque considera o objeto uma construção lógico-intelectual e uma construção experimental feita em laboratório, o cientista não espera que seu trabalho apresente a realidade em si mesma, mas ofereça estruturas e modelos de funcionamento da realidade, explicando os fenômenos observados. Não espera, portanto, apresentar uma verdade absoluta e sim uma verdade aproximada que pode ser corrigida, modificada, abandonada por outra mais adequada aos fenômenos. São três as exigências de seu ideal de cientificidade:

                1. que haja coerência (isto é, que não haja contradições) entre os princípios que orientam a teoria;

                2. que os modelos dos objetos (ou estruturas dos fenômenos) sejam construídos com base na observação e na experimentação;

                3. que os resultados obtidos possam não só alterar os modelos construídos, mas também alterar os próprios princípios da teoria, corrigindo-a.

 

Diferenças entre a ciência antiga e a moderna

                Quando apresentamos os ideais de cientificidade, dissemos que tanto o ideal racionalista quanto o empirista se iniciaram com os gregos. Isso, porém, não significa que a concepção antiga e a moderna (século XVII) de ciência sejam idênticas.

                Tomemos um exemplo que nos ajude a perceber algumas das diferenças entre antigos e modernos.

                Aristóteles escreveu a Física. O objeto físico ou natural, diz Aristóteles, possui duas características principais: em primeiro lugar, existe e opera independentemente da presença, da vontade e da ação humanas; em segundo lugar, é um ser em movimento, isto é, em devir, sofrendo alterações qualitativas, quantitativas e locais; nasce, vive e morre ou desaparece. A Física estuda, portanto, os seres naturais submetidos à mudança.

                […] Este pequeno resumo da Física aristotélica nos mostra algumas características

marcantes da ciência antiga:

                - é uma ciência baseada nas qualidades percebidas nos corpos (leve, pesado, líquido, sólido, etc.);

                - é uma ciência baseada em distinções qualitativas do espaço (alto, baixo, longe, perto, celeste, sublunar);

                - é uma ciência baseada na metafísica da identidade e da mudança (perfeição imóvel, imperfeição móvel);

                - é uma ciência que estabelece leis diferentes para os corpos segundo sua matéria e sua forma, ou segundo sua substância;

                - como consequência das características anteriores, é uma ciência que concebe a realidade natural como um modelo hierárquico no qual os seres possuem um lugar natural de acordo com sua perfeição, hierarquizando-se em graus que vão dos inferiores aos superiores.

                Quando comparamos a física de Aristóteles com a moderna, isto é, a que foi elaborada por Galileu e Newton, podemos notar as grandes diferenças:

                - para a física moderna, o espaço é aquele definido pela geometria, portanto, homogêneo, sem distinções qualitativas entre alto, baixo, frente, atrás, longe, perto. É um espaço onde todos os pontos são reversíveis ou equivalentes, de modo que não há “lugares naturais” qualitativamente diferenciados;

                - os objetos físicos investigados pelo cientista começam por ser purificados de todas as qualidades sensoriais – cor, tamanho, odor, peso, matéria, forma, líquido, sólido, leve, grande, pequeno, etc. -, isto é, de todas as qualidades sensíveis, porque estas são meramente subjetivas. O objeto é definido por propriedades objetivos gerais, válidas para todos os seres físicos: massa, volume, figura. Torna-se irrelevante o tipo de matéria, de forma ou de substância de um corpo, pois todos se comportam fisicamente da mesma maneira. Torna-se inútil a distinção entre um mundo celeste e um mundo sublunar, pois astros e corpos terrestres obedecem às mesmas leis universais da física;

                - a física estuda o movimento não como alteração qualitativa e quantitativa dos corpos, mas como deslocamento espacial que altera a massa, o volume e a velocidade dos corpos. O movimento e o repouso são as propriedades físicas objetivas de todos os corpos da Natureza e todos eles obedecem às mesmas leis – aquelas que Galileu formulou com base no princípio da inércia (um corpo se mantém em movimento indefinidamente, a menos que encontre um outro que lhe faça obstáculo ou que o desvie de seu trajeto); e aquelas formuladas por Newton, com base no princípio universal da gravitação (a toda ação corresponde uma reação que lhe é igual e contrária). Não há diferença entre movimento natural e movimento violento, pois todo e qualquer movimento obedece às mesmas leis;

                - a Natureza é um complexo de corpos formados por proporções diferentes de movimento e de repouso, articulados por relações de causa e efeito, sem finalidade, pois a idéia de finalidade só existe para os seres humanos dotados de razão e vontade. Os corpos não se movem, portanto, em busca de perfeição, mas porque a causa eficiente do movimento os faz moverem-se. A física é uma mecânica universal.

                A física da Natureza se torna geométrica, experimental, quantitativa, causal ou mecânica (relações entre a causa eficiente e seus efeitos) e suas leis têm valor universal, independentemente das qualidades sensíveis das coisas. Terra, mar e ar obedecem às mesmas leis naturais. A Natureza é a mesma em toda parte e para todos os seres, não existindo hierarquias ou graus de imperfeição-perfeição, inferioridade-superioridade.

                Há, ainda, uma outra diferença profunda entre a ciência antiga e a moderna. A primeira era uma ciência teorética, isto é, apenas contemplava os seres naturais, sem jamais imaginar intervir neles ou sobre eles. A técnica era um saber empírico, ligado a práticas necessárias à vida e nada tinha a oferecer à ciência nem a receber dela. Numa sociedade escravista, que deixava tarefas, trabalhos e serviços aos escravos, a técnica era vista como uma forma menor de conhecimento.

                Duas afirmações mostram a diferença dos modernos em relação aos antigos: a afirmação do filósofo inglês Francis Bacon, para quem “saber é poder”, e a afirmação de Descartes, para quem “a ciência deve tornar-nos senhores da Natureza”. A ciência moderna nasce vinculada à ideia de intervir na Natureza, de conhecê-la para apropriar-se dela, para controlá-la e dominá-la. A ciência não é apenas contemplação da verdade, mas é sobretudo o exercício do poderio humano sobre a Natureza. Numa sociedade em que o capitalismo está surgindo e, para acumular o capital, deve ampliar a capacidade do trabalho humano para modificar e explorar a Natureza, a nova ciência será inseparável da técnica.

 

As mudanças científicas

                Vimos até aqui duas grandes mudanças na ciência. A primeira delas se refere à passagem do racionalismo e empirismo ao construtivismo, isto é, de um ideal de cientificidade baseado na ideia de que a ciência é uma representação da realidade tal como ela é em si mesma, a um ideal de cientificidade baseado na ideia de que o objeto científico é um modelo construído e não uma representação do real, uma aproximação sobre o modo de funcionamento da realidade, mas não o conhecimento absoluto dela. A segunda mudança refere-se à passagem da ciência antiga – teorética, qualitativa – à ciência moderna – tecnológica, quantitativa. Por que houve tais mudanças no pensamento científico?

                Durante certo tempo, julgou-se que a ciência (como a sociedade) evolui e progride. Evolução e progresso são duas ideias muito recentes – datam dos séculos XVIII e XIX -, mas muito aceitas pelas pessoas. [...]

                Evolução e progresso são a crença na superioridade do presente em relação ao passado e do futuro em relação ao presente. Assim, os europeus civilizados seriam superiores aos africanos e aos índios, a física galileana-newtoniana seria superior à aristotélica, a física quântica seria superior à de Galileu e de Newton. Evoluir significa: tornar-se superior e melhor do que se era antes. Progredir significa: ir num rumo cada vez melhor na direção de uma finalidade superior. [...]

                Evoluir e progredir pressupõem uma concepção de História semelhante à que a biologia apresenta quando fala em germe, semente ou larva. O germe, a semente ou a larva são entes que contêm neles mesmos tudo o que lhes acontecerá, isto é, o futuro já está contido no ponto inicial de um ser, cuja história ou cujo tempo nada mais é do que o desdobrar ou o desenvolver pleno daquilo que ele já era potencialmente. [...]

 

Desmentindo a evolução e o progresso científicos

                A Filosofia das Ciências, estudando as mudanças científicas, impôs um desmentido às ideias de evolução e progresso. Isso não quer dizer que a Filosofia das Ciências viesse a falar em atraso e regressão científica, pois essas duas noções são idênticas às de evolução e progresso, apenas com o sinal trocado (em vez de caminhar causal e continuamente para frente, caminhar-se-ia causal e continuamente para trás). O que a Filosofia das Ciências compreendeu foi que as elaborações científicas e os ideais de cientificidade são diferentes e descontínuos. [...]

                Quando comparamos as físicas de Aristóteles, Galileu-Newton e Einstein, não estamos diante de uma mesma física, que teria evoluído ou progredido, mas diante de três físicas diferentes, baseadas em princípios, conceitos, demonstrações, experimentações e tecnologias completamente diferentes. Em cada uma delas, a idéia de Natureza é diferente; em cada uma delas os métodos empregados são diferentes; em cada uma delas o que se deseja conhecer é diferente. [...]

                Verificou-se, portanto, uma descontinuidade e uma diferença temporal entre as teorias científicas como consequência não de uma forma mais evoluída, mais progressiva ou melhor de fazer ciência, e sim como resultado de diferentes maneiras de conhecer e construir os objetos científicos, de elaborar os métodos e inventar tecnologias. O filósofo Gaston Bachelard criou a expressão ruptura epistemológica para explicar essa descontinuidade no conhecimento científico.

 

Rupturas epistemológicas e revoluções científicas

                Um cientista ou um grupo de cientistas começam a estudar um fenômeno empregando teorias, métodos e tecnologias disponíveis em seu campo de trabalho. Pouco a pouco, descobrem que os conceitos, os procedimentos, os instrumentos existentes não explicam o que estão observando nem levam aos resultados que estão buscando. Encontram, diz Bachelard, um “obstáculo epistemológico”.

                Para superar o obstáculo epistemológico, o cientista ou grupo de cientistas precisam ter a coragem de dizer: Não. Precisam dizer não à teoria existente e aos métodos e tecnologias existentes, realizando a ruptura epistemológica. Esta conduz à elaboração de novas teorias, novos métodos e tecnologias, que afetam todo o campo de conhecimentos existentes.

                Uma nova concepção científica emerge, levando tanto a incorporar nela os conhecimentos anteriores, quanto a afastá-los inteiramente. O filósofo da ciência Khun designa esses momentos de ruptura epistemológica e de criação de novas teorias com a expressão revolução científica, como, por exemplo, a revolução copernicana, que substituiu a explicação geocêntrica pela heliocêntrica. Segundo Khun, um campo científico é criado quando métodos, tecnologias, formas de observação e experimentação, conceitos e demonstrações formam um todo sistemático, uma teoria que permite o conhecimento de inúmeros fenômenos. A teoria se torna um modelo de conhecimento ou um paradigma científico. Em tempos normais, um cientista, diante de um fato ou de um fenômeno ainda não estudado, usa o modelo ou o paradigma científico existente. Uma revolução científica acontece quando o cientista descobre que os paradigmas disponíveis não conseguem explicar um fenômeno ou um fato novo, sendo necessário produzir um outro paradigma, até então inexistente e cuja necessidade não era sentida pelos investigadores.

                A ciência, portanto, não caminha numa via linear contínua e progressiva, mas por saltos ou revoluções.

                Por que, então, temos a ilusão de progresso e de evolução? Por dois motivos principais:

1. do lado do cientista, porque este sente que sabe mais e melhor do que antes, já que o paradigma anterior não lhe permitia conhecer certos objetos ou fenômenos. Como trabalhava com uma tradição científica e a abandonou, tem o sentimento de que o passado estava errado, era inferior ao presente aberto por seu novo trabalho. Não é ele, mas o filósofo da ciência que percebe a ruptura e a descontinuidade e, portanto, a diferença temporal. Do lado do cientista, o progresso é uma vivência subjetiva;

2. do lado dos não-cientistas, porque vivemos sob a ideologia do progresso e da evolução, do “novo ” e do “fantástico”. Além disso, vemos os resultados tecnológicos das ciências: naves espaciais, computadores, satélites, fornos de micro-ondas, telefones celulares, cura de doenças julgadas incuráveis, objetos plásticos descartáveis, e esses resultados tecnológicos são apresentados pelos governos, pelas empresas e pela propaganda como “signos do progresso” e não da diferença temporal. Do lado dos não-cientistas, o progresso é uma crença ideológica.

                Há, porém, uma razão mais profunda para nossa crença no progresso. Desde a Antiguidade, conhecer sempre foi considerado o meio mais precioso e eficaz para combater o medo, a superstição e as crendices. Ora, no caso da modernidade, o vínculo entre ciência e aplicação prática dos conhecimentos (tecnologias) fez surgirem objetos que não só facilitaram a vida humana (meios de transporte, de iluminação, de comunicação, de cultivo do solo, etc.), mas aumentaram a esperança de vida (remédios, cirurgias, etc.). Do ponto de vista dos resultados práticos, sentimos que estamos em melhores condições que os antigos e por isso falamos em evolução e progresso.

                Do ponto de vista das próprias teorias científicas, porém, a noção de progresso não possui fundamento, como explicamos acima.

 

Bacon, Descartes e Locke

                A primeira tarefa que os modernos se deram foi a de separar fé de razão, considerando cada uma delas destinada a conhecimentos diferentes e sem qualquer relação entre si. A segunda tarefa foi a de explicar como a alma-consciência, embora diferente dos corpos, pode conhecê-los. Consideraram que a alma pode conhecer os corpos porque os representa intelectualmente por meio das idéias e estas são imateriais como a própria alma. A terceira tarefa foi a de explicar como a razão e o pensamento podem tornar-se mais fortes do que a vontade e controlá-la para que evite o erro.

                O problema do conhecimento torna-se, portanto, crucial e a Filosofia precisa começar pelo exame da capacidade humana de conhecer, pelo entendimento ou sujeito do conhecimento. A teoria do conhecimento volta-se para a relação entre o pensamento e as coisas, a consciência (interior) e a realidade (exterior), o entendimento e a realidade; em suma, o sujeito e o objeto do conhecimento.

                Os dois filósofos que iniciam o exame da capacidade humana para o erro e a verdade são o inglês Francis Bacon e o francês René Descartes. O filósofo que propõe, pela primeira vez, uma teoria do conhecimento propriamente dita é o inglês John Locke. A partir do século XVII, portanto, a teoria do conhecimento torna-se uma disciplina central da Filosofia.

                Os gregos indagavam: como o erro é possível? Os modernos perguntaram: como a verdade é possível? [...] Em outras palavras, para os modernos trata-se de compreender e explicar como os relatos mentais – nossas ideias – correspondem ao que se passa verdadeiramente na realidade. Apesar dessas diferenças, os filósofos retomaram o modo de trabalhar filosoficamente proposto por Sócrates, Platão e Aristóteles, qual seja, começar pelo exame das opiniões contrárias e ilusórias para ultrapassá-las em direção à verdade.

                Antes de abordar o conhecimento verdadeiro, Bacon e Descartes examinaram exaustivamente as causas e as formas do erro, inaugurando um estilo filosófico que permanecerá na Filosofia, isto é, a análise dos preconceitos e do senso comum.

                Bacon elaborou uma teoria conhecida como a crítica dos ídolos (a palavra ídolo vem do grego eidolon e significa imagem). Descartes, como já mencionamos, elaborou um método de análise conhecido como dúvida metódica.

                De acordo com Bacon, existem quatro tipos de ídolos ou de imagens que formam opiniões cristalizadas e preconceitos, que impedem o conhecimento da verdade:

                1. ídolos da caverna: as opiniões que se formam em nós por erros e defeitos de nossos órgãos dos sentidos. São os mais fáceis de corrigir por nosso intelecto;

                2. ídolos do fórum: são as opiniões que se formam em nós como consequência da linguagem e de nossas relações com os outros. São difíceis de vencer, mas o intelecto tem poder sobre eles;

                3. ídolos do teatro: são as opiniões formadas em nós em decorrência dos poderes das autoridades que nos impõem seus pontos de vista e os transformam em decretos e leis inquestionáveis. Só podem ser refeitos se houver uma mudança social e política;

                4. ídolos da tribo: são as opiniões que se formam em nós em decorrência de nossa natureza humana; esses ídolos são próprios da espécie humana e só podem ser vencidos se houver uma reforma da própria natureza humana.

                Bacon acreditava que o avanço dos conhecimentos e das técnicas, as mudanças sociais e políticas e o desenvolvimento das ciências e da Filosofia propiciariam uma grande reforma do conhecimento humano, que seria também uma grande reforma na vida humana. […] Descartes localizava a origem do erro em duas atitudes que chamou de atitudes infantis:

                1. a prevenção, que é a facilidade com que nosso espírito se deixa levar pelas opiniões e ideias alheias, sem se preocupar em verificar se são ou não verdadeiras. São as opiniões que se cristalizam em nós sob a forma de preconceitos (colocados em nós por pais, professores, livros, autoridades) e que escravizam nosso pensamento, impedindo-nos de pensar e de investigar;

                2. a precipitação, que é a facilidade e a velocidade com que nossa vontade nos faz emitir juízos sobre as coisas antes de verificarmos se nossas ideias são ou não são verdadeiras. São opiniões que emitimos em consequência de nossa vontade ser mais forte e poderosa do que nosso intelecto. Originam-se no conhecimento sensível, na imaginação, na linguagem e na memória.

                Como Bacon, Descartes também está convencido de que é possível vencer esses efeitos, graças a uma reforma do entendimento e das ciências [...]. Essa reforma pode ser feita pelo sujeito do conhecimento, se este decidir e deliberar pela necessidade de encontrar fundamentos seguros para o saber.      Para isso Descartes criou um procedimento, a dúvida metódica, pela qual o sujeito do conhecimento, analisando cada um de seus conhecimentos, conhece e avalia as fontes e as causas de cada um, a forma e o conteúdo de cada um, a falsidade e a verdade de cada um e encontra meios para livrar-se de tudo quanto seja duvidoso perante o pensamento. Ao mesmo tempo, o pensamento oferece ao espírito um conjunto de regras que deverão ser obedecidas para que um conhecimento seja considerado verdadeiro.

                Para Descartes, o conhecimento sensível (isto é, sensação, percepção, imaginação, memória e linguagem) é a causa do erro e deve ser afastado. O conhecimento verdadeiro é puramente intelectual, parte das ideias inatas e controla (por meio de regras) as investigações filosóficas, científicas e técnicas.

                Locke é o iniciador da teoria do conhecimento propriamente dita porque se propõe a analisar cada uma das formas de conhecimento que possuímos, a origem de nossas ideias e nossos discursos, a finalidade das teorias e as capacidades do sujeito cognoscente relacionadas com os objetos que ele pode conhecer. Seguindo a trilha que fora aberta por Aristóteles, Locke também distingue graus de conhecimento, começando pelas sensações até chegar ao pensamento.

                Comparemos o que escreveu Aristóteles, no início da Metafísica, e o que afirmou Locke, no início do Ensaio sobre o entendimento humano. Aristóteles escreveu: Todos os homens têm, por natureza, o desejo de conhecer. O prazer causado pelas sensações é a prova disso, pois, mesmo fora de qualquer utilidade, as sensações nos agradam por si mesmas e, mais do que todas as outras, as sensações visuais. Locke afirmou: Visto que o entendimento situa o homem acima dos outros seres sensíveis e dá-lhe toda vantagem e todo domínio que tem sobre eles, seu estudo consiste certamente num tópico que, por sua nobreza, é merecedor de nosso trabalho de investigá-lo. O entendimento, como o olho, que nos faz ver e perceber todas as outras coisas, não se observa a si mesmo; requer arte e esforço situá-lo à distância e fazê-lo seu próprio objeto.

                Assim como Aristóteles diferia de Platão, Locke difere de Descartes. Platão e Descartes afastam a experiência sensível ou o conhecimento sensível do conhecimento verdadeiro, que é puramente intelectual. Aristóteles e Locke consideram que o conhecimento se realiza por graus contínuos, partindo da sensação até chegar às ideias.

                Essa diferença de perspectiva estabelece as duas grandes orientações da teoria do conhecimento, conhecidas como racionalismo e empirismo. Para o racionalismo, a fonte do conhecimento verdadeiro é a razão operando por si mesma, sem o auxílio da experiência sensível e controlando a própria experiência sensível. Para o empirismo, a fonte de todo e qualquer conhecimento é a experiência sensível, responsável pelas ideias da razão e controlando o trabalho da própria razão.