terça-feira, 20 de abril de 2021

2º Ano / 2º Bim. Texto: A Ciência Humanas

Disciplina: Filosofia

Prof.: Prof. Fil. Antonio Moraes

Série: 2º Ano

Texto: A Ciência Humanas (pág. 302/310)

Livro: Iniciação à Filosofia

Autora: Marilena Chaui

Editora: Ática, 2016


ESTUDO DIRIGIDO ACERCA DA TEMÁTICA

AS CIÊNCIAS HUMANAS (PÁG. 303/310).


 São possíveis ciências humanas?

A expressão ciências humanas refere-se àquelas ciências que têm o próprio ser humano como objeto. A situação de tais ciências é muito especial. Em primeiro lugar, porque seu objeto é bastante recente: o homem como objeto científico é uma ideia surgida apenas no século XIX.

Surgiram depois que as ciências matemáticas e naturais que já haviam definido a ideia de cientificidade, de métodos e conhecimentos científicos, tratando o homem como uma coisa natural matematizável e experimentável.  As ciências humanas procuraram estudar seu objeto empregando conceitos, métodos e técnicas propostos pelas ciências da Natureza.

 

Como, entretanto, não era possível realizar uma transposição integral e perfeita dos métodos, das técnicas e das teorias naturais para os estudos dos fatos humanos, as ciências humanas acabaram trabalhando por analogia com as ciências naturais e seus resultados tornaram-se muito contestáveis e pouco científicos.

Essa situação levou muitos cientistas e filósofos a duvidar da possibilidade de ciências que tivessem o homem como objeto.

A ciência busca as leis objetivas gerais, universais e necessárias dos fatos. Como estabelecer leis objetivas para o que é essencialmente subjetivo, como o psiquismo humano?

A ciência lida com fatos regidos pela necessidade causal ou pelo princípio do determinismo universal. O homem é dotado de razão, vontade e liberdade, capaz de criar fins e valores, de escolher entre várias opções possíveis. Como dar uma explicação científica necessária àquilo que, por essência, é contingente, pois é livre e age por liberdade?

 

O humano como objeto de investigação

1. Período do humanismo: ideia renascentista da dignidade do homem como centro do Universo, destinado a dominar e controlar a Natureza. Onde surge a ideia de civilização. O humanismo não separa homem e Natureza, mas considera o homem um ser natural diferente dos demais, manifestando essa diferença como um ser racional e livre, agente ético, político, técnico e artístico.

2. Período do positivismo: inicia-se com Augusto Comte, para quem a humanidade atravessa três etapas progressivas, indo da superstição religiosa à metafísica e à teologia, para chegar, finalmente, à ciência positiva, ponto final do progresso humano.

 A psicologia positivista afirma que seu objeto não é o psiquismo enquanto consciência, mas enquanto comportamento observável que pode ser tratado com o método experimental das ciências naturais, afirmando que o fato social deve ser tratado como uma coisa, à qual são aplicados os procedimentos de análise e síntese criados pelas ciências naturais. Os elementos ou átomos sociais são os indivíduos, obtidos por via da análise; as relações causais entre os indivíduos, recompostas por via da síntese, constituem as instituições sociais (família, trabalho, religião, Estado, etc.).

3. Período do historicismo: insiste na diferença profunda entre homem e Natureza e entre ciências naturais e humanas, chamadas por Dilthey de ciências do espírito ou da cultura. Os fatos humanos são históricos, dotados de valor e de sentido, de significação e finalidade e devem ser estudados com essas características que os distinguem dos fatos naturais.

O fato humano é histórico ou temporal: surge no tempo e se transforma no tempo, devendo ser compreendidos, simultaneamente, como particularidades históricas ou “visões de mundo” específicas ou autônomas e como etapas ou fases do desenvolvimento geral da humanidade, isto é, de um processo causal universal, que é o progresso.

 

O historicismo resultou em dois problemas: o relativismo e a subordinação a uma filosofia da História.

 

Relativismo: as leis científicas são válidas apenas para uma determinada época e cultura, não podendo ser universalizadas.

Filosofia da História: os indivíduos humanos e as instituições socioculturais só são compreensíveis se seu estudo científico subordinar-se a uma teoria geral da História que considere cada formação sociocultural seja como “visão de mundo” particular, seja como etapa de um processo histórico universal.

 

Para escapar dessas consequências, Max Weber propôs que as ciências humanas trabalhassem seus objetos como tipos ideais e não como fatos empíricos, que permitem compreender e interpretar fatos particulares observáveis.

 

3 Escolas Escolas Filosóficas: Fenomenologia, estruturalismo e marxismo.

Consolidou-se a partir das contribuições de três correntes de pensamento, que, entre os anos 20 e 50 do século passado, provocaram uma ruptura epistemológica e uma revolução científica no campo das humanidades.

 

A contribuição da fenomenologia

A fenomenologia introduziu a noção de essência ou significação como um conceito que permite diferenciar internamente uma realidade de outras.

Dessa maneira, começou por permitir que fosse feita a diferença rigorosa entre a esfera ou região da essência “Natureza” e a esfera ou região da essência “homem”. A seguir, permitiu que a esfera ou região “homem” fosse internamente diferenciada em essências diversas: o psíquico, o social, o histórico, o cultural. A validade de seus projetos e campos científicos de investigação: psicologia, sociologia, história, antropologia, linguística, economia.

A psicologia volta-se para o estudo dos fatos psíquicos diretamente observáveis. Ao radicalizar essa concepção, a psicologia positivista fazia uma soma de elementos físico-químicos, anatômicos e fisiológicos, de sorte que não havia, propriamente falando, um objeto científico denominado “o psíquico”, mas efeitos psíquicos de causas não psíquicas, tendo como objeto o comportamento como um fato externo, observável e experimental.

 

Recusando a perspectiva da filosofia da História, a sociologia positivista fazia da sociedade uma soma de ações individuais e tomava o indivíduo como elemento observável e causa do social, de sorte que não havia a sociedade como um objeto ou uma realidade propriamente dita, mas um efeito de ações psicológicas dos indivíduos.

Em resumo, antes da fenomenologia, cada uma das ciências humanas desfazia seu objeto num agregado de elementos de natureza diversa do todo, estudava as relações causais externas entre esses elementos e as apresentava como explicação e lei de seu objeto de investigação.

 

A contribuição do estruturalismo

O estruturalismo permitiu que as ciências humanas livrando-as das explicações mecânicas de causa e efeito, sem abandonar a ideia de lei científica.

As estruturas são totalidades organizadas segundo princípios internos que lhes são próprios e que comandam seus elementos ou partes, seu modo de funcionamento e suas possibilidades de transformação temporal ou histórica.

A primeira das ciências humanas a se transformar profundamente, graças à ideia de estrutura foi a antropologia social. Ao contrário do que pensava a antropologia positivista, as chamadas “sociedades primitivas” não são uma etapa atrasada da evolução, mas uma forma objetiva de organizar as relações sociais de modo diferente do nosso.

As estruturas dessas sociedades são baseadas no princípio do valor ou da equivalência, que permite a troca e a circulação de certos seres, de maneira a constituir o todo da sociedade. O modo como cada um desses sistemas ou estruturas parciais se organiza e se relaciona com os outros define a estrutura geral e específica de uma sociedade “primitiva”.

 

A contribuição do marxismo

O marxismo permitiu compreender os fatos humanos mais originários ou primários são as relações dos homens com a Natureza na luta pela sobrevivência, dando origem às primeiras instituições sociais: família, pastoreio e agricultura, troca e comércio.

Assim, as primeiras instituições sociais são econômicas. Para conservá-las, o grupo social cria instituições de poder que sustentem as relações sociais e as ideias-valores-símbolos produzidos.

Dessa maneira, o marxismo permitiu às ciências humanas compreender as articulações necessárias entre o plano econômico e o das instituições sociais e políticas. Puderam também compreender que as mudanças históricas resultam de lentos processos sociais, econômicos e políticos, baseados na forma assumida pela propriedade dos meios de produção e pelas relações de trabalho.

Em resumo, a fenomenologia permitiu a definição e a delimitação dos objetos das ciências humanas; o estruturalismo permitiu uma metodologia que chega às leis dos fatos humanos, sem que seja necessário imitar ou copiar os procedimentos das ciências naturais; o marxismo permitiu compreender que os fatos humanos são historicamente determinados e que a historicidade, longe de impedir que sejam conhecidos, garante a interpretação racional deles e o conhecimento de suas leis.

Com essas contribuições, foi possível demonstrar que os fenômenos humanos são dotados de sentido e significação, são históricos, possuem leis próprias, são diferentes dos fenômenos naturais e podem ser tratados cientificamente.

 

Os campos de estudo das ciências humanas

Se tomarmos as ciências humanas de acordo com seus campos de investigação, podemos distribuí-las da seguinte maneira:

 

Psicologia

 - estudo das estruturas, do desenvolvimento das operações da mente humana;

- estudo das relações intersubjetivas dos indivíduos em grupo e em sociedade;

- estudo das patologias da mente humana

 

Sociologia

- estudo das origens e formas das sociedades, tipos de organizações sociais, econômicas e políticas;

- estudo das relações sociais e de suas transformações;

- estudo das instituições sociais;

 

Economia

- estudo das condições materiais  de produção e reprodução da riqueza;

- estudo das estruturas produtivas segundo o critério da divisão social do trabalho;

- estudo da origem, do desenvolvimento, das crises, das transformações e da reprodução das formas econômicas;

 

Antropologia

- estudo das estruturas ou formas culturais em sua singularidade ou particularidade, incluindo: religião, formas de poder, formas de parentesco, formas de comunicação, organização da vida econômica, artes, técnicas, costumes, crenças, formas de pensamento e de comportamento, etc.;

- estudo das comunidades ditas “primitivas”;

 

História

- estudo do desenvolvimento das formações sociais em seus aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais;

- estudo das transformações das sociedades e comunidades como resultado e expressão de conflitos, lutas, contradições internas às formações sociais;

- estudo das transformações das sociedades e comunidades sob o impacto de acontecimentos políticos, econômicos, sociais e culturais;

- estudo dos diferentes suportes da memória coletiva (documentos, monumentos, pinturas, fotografias, filmes, moedas, lápides funerárias, testemunhos e relatos orais e escritos, etc.).

 

Linguística

- estudo das estruturas da linguagem como sistema dotado de princípios internos de funcionamento e transformação;

- estudo das relações entre língua e fala ou palavra;

- estudo das relações entre a linguagem e os outros sistemas de signos e símbolos ou outros sistemas de comunicação.

 

Psicanálise

- estudo da estrutura e do funcionamento do inconsciente;

- estudo das patologias ou perturbações inconscientes e suas expressões conscientes.

 

Devemos observar que:

Embora com campos e métodos específicos, as ciências humanas tendem a apresentar resultados mais completos e satisfatórios quando trabalham interdisciplinarmente, de modo a abranger os múltiplos aspectos simultâneos e sucessivos dos fenômenos estudados;

A antropologia e psicanálise suscitaram o aparecimento de uma nova disciplina científica: a semiologia, que estuda os diferentes sistemas de signos e símbolos que constituem as múltiplas e diferentes formas de comunicação. Conduziu à ideia de que signos e símbolos estão referidos às relações sociais e às suas condições históricas, cada sociedade e cada cultura constituindo-se como um sistema que  ntegra e totaliza vários subsistemas de signos e símbolos.

Esse método é a semiótica, tomada como metodologia própria às ciências humanas e que é capaz de unificá-las.




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